quarta-feira, 18 de maio de 2011

Por que o Semiárido é tratado como inviável?

Esse é o solo do semiárido! Muito produtivo.
Foto arquivo do CEDASB
O semiárido, quase sempre, é tratado como inviável, ou seja, como lugar que não serve para nada e seu povo como incapaz.  


Na  realidade,  nem  o  semiárido  é  inviável  nem  seu  povo  é  incapaz. O  que  ocorre  é  que durante muito tempo e, em muitos casos, ainda nos dias de hoje, as únicas políticas oficiais destinadas à região foram aquelas denominadas de “combate à seca”.
São políticas que estavam e estão voltadas para grandes obras, normalmente destinados a assistir aos mais ricos e que vinham unidas a processos     assistencialistas,  voltados para os mais pobres, como doações, esmolas, distribuição de víveres, carros-pipa e processos semelhantes. Estas políticas nunca  tiveram e não  têm  interesse de resolver as questões e
os problemas.   As ações de combate à seca sempre aparecem como  “atos de bondade”, mas  propositalmente  são  criadas  e mantidas  para  garantir  que  o  semiárido  e  seu  povo permaneçam sem vez e sem voz, dependentes. 
Como se sabe, essas políticas, normalmente são ligadas ao voto e mantêm no poder as mesmas pessoas e grupos oligárquicos, através da compra de votos.
Assim, através de  doações  e  políticas  assistencialistas  não  voltadas  para  resolver  os problemas do povo do semiarido, sempre foi mantida e favorecida a concentração da  terra nos  latifúndios,  nos  grandes  projetos  do  agronegócio,  nas  grandes  fazendas  de  gado. Enquanto isso, “muitos agricultores e agricultoras ainda trabalham em terras alheias ou em minifúndios  superexplorados,  fragilizando  sua  própria  segurança  alimentar”  (ASA,  Ceará, 2006).
De  igual  modo,  durante  muitos  anos  foram  construídos  muitos  poços  e  açudes  no semiárido, mas em terras dos ricos e dos fazendeiros. Por isso, em cada seca ocorrida, os ricos permaneciam mais ricos, possuidores e concentradores de mais água em suas terras - com  mais  terra  e  com  mais  poder.  E  os  mais  pobres,  ou  migravam  ou  ficavam  mais
miseráveis.  Há ainda outras ações que  intensificam os problemas do semiarido. É a educação que é dada  nas  escolas,  aos  filhos  e  filhas  dos  agricultores.  Quase  sempre  é  uma  educação descontextualizada, que coloca na cabeça das crianças a mentalidade de que na roça, na área rural e no semiárido não há possibilidade de vida. Pelo que se estuda, debate, lê e se faz  em muitas  escolas,  conclui-se  que  quem  quer  viver  bem  e  dignamente  não  deveria seguir a trilha e a história dos próprios pais e antepassados, mas sim, migrar do semiárido.
Permanecer no semiárido não seria uma ação inteligente, pois ali não há possibilidade de vida digna (BAPTISTA, 2005; MOURA, 2003; RESAB, 2006).
Toda essa problemática é perpassada, de modo cruel, por uma marginalização das mulheres e, por conseguinte, pela ausência de um debate de gênero. 
 (...)
Texto de:
Naidison de Quintella Baptista: Mestre  em  Teologia,  com  graduação  em  Filosofia,  Teologia  e  Educação.  Secretário  Executivo  do  Movimento  de Organização Comunitária (MOC), membro da Coordenação da ASA Bahia e da Coordenação Nacional da ASA.Presidente do CONSEA-Bahia e membro do CONSEA-Nacional  
Carlos Humberto Campos: Graduado em Sociologia, membro da Equipe Técnica da Cáritas Brasileira – Regional do Piauí e membro da Coordenação Nacional da ASA.

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