terça-feira, 26 de abril de 2011

CEDASB Realiza capacitação de Agentes comunitários de Saúde da zona Rural.

Foi realizado nos dias 19 e 20 de Abril, a capacitação de agentes comunitários de saúde da zona rural do município de Poções. Cerca de 50 agentes comunitários de saúde que trabalham na zona rural participaram de uma capacitação sobre os cuidados com a água acumulada nas cisternas. O curso teve carga horária de 16 horas e foi promovido pelo Centro de Convivência e Desenvolvimento Agroecológico do Sudoeste da Bahia – Unidade Gestora Microrregional / CEDASB UGM, por meio da Articulação no Semi-árido Brasileiro/ASA em parceria com a  secretaria de Saúde do município de Poções.
Os agentes rurais aprenderam noções básicas sobre captação de água; limpeza, tratamento e doenças que são causadas pela água contaminada. E também entenderam um pouco mais sobre a ASA/CEDASB sua política de atuação, e como eles vão poder  auxiliar as famílias beneficiadas a conviver melhor no  semiárido.
Segundo Elisangela Santos, que é agente comunitária, no município de Poções, e atende as localidades de Fazenda Piedade, Lagoa Nova e Roçado Grande. Disse que  gostou bastante e ficou conhecendo mais um pouco sobre este projeto, e foi uma experiência única participar desta capacitação. "Agora estamos mais preparados para levar informação sobre os cuidados que os beneficiários devem ter com as cisternas. Foi depois do projeto das cisternas que muita gente melhorou a qualidade de vida nas comunidades, e eu acredito que nós agentes de saúde quando saímos daqui vamos ajudar eles a conservar melhor as cisternas".

Do: CEDASB

Itana Fagundes Cruz
Comunicadora Popular do CEDASB.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A seca e as cercas


foto arquivo do CEDASB.

No coração do sertanejo a cerquidão se faz cultura
Na dura expressão da dor, aguda e farpada
Como mourões, nas mentes nativas plantada
E quando o R permeia a seca,
Muda e emudece metade do começo
O cansaço seca os lábios
E a indignação alaga o olhar, O suor salgado que engasga
Nos impede de gritar E a vida não se conforma a viver de tão estranha forma.
O mundo direito se espalha e se ampara
Na proporção que o esquerdo se encurrala.
Ao passo que aumenta os pastos Inaugura-se a segregação dos laços
Trilhas marcadas por flores murchas
Mas... A vida não se conforma a viver de tão estranha forma
A proposta está lançada, caminhemos e lutemos depressa
Como contraponto a essa unidade perversa
Pra que mesmo na sequidão dos olhos, d’água se aflore esperanças
Ainda que semi-áridas De que jamais sobre o Sertão, lagrimas salguem o sabor de ser criança
E ao brilho do sol, no germinar da semente
Juntos vão cantar a canção que embala o sorriso dessa gente
Lutemos e Caminhemos Como guerreiros, de honra e coração
Guerreiros são terra, de foice e facão
Lutemos e caminhemos
Antes que a vida se faça ilusão. 

Clebson Souza de Almeida- CAV
Turmalina - MG
29/03/2011

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Dilma quer 'Água para Todos' no NE

O governo vai lançar o programa Água para Todos, voltado para o semiárido nordestino, como uma das âncoras do plano de erradicação da miséria. Apesar do corte de R$ 50 bilhões no Orçamento, a presidente Dilma Rousseff garantiu aos ministros da área social que o governo investirá na construção de 800 mil cisternas, além de adutoras e pequenos reservatórios para atender 5 milhões de famílias até 2014.
"Depois do Luz para Todos, vamos ter o Água para Todos", afirmou a presidente, numa referência ao programa de energia elétrica lançado em novembro de 2003, no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia também foi exposta por Dilma em conversa com dirigentes de seis centrais sindicais, no último dia 11, no Palácio do Planalto.
Com lançamento previsto para maio, o Água para Todos é inspirado no programa de mesmo nome, adotado pelo governador da Bahia, Jaques Wagner (PT). "É uma coisa fantástica. Conseguimos levar água para mais de 2 milhões de pessoas", disse Wagner. "A presidente conversou comigo sobre o projeto e nossos técnicos estão trabalhando com o Ministério da Integração Nacional."
Atualmente, diversas organizações não governamentais (ONGs) já investem na construção de cisternas no Brasil, principalmente na Região Nordeste, mas Dilma quer ampliar o trabalho. O projeto Um Milhão de Cisternas, por exemplo, é uma iniciativa adotada pela Articulação do Semiárido (ASA), ONG que reúne 700 entidades da sociedade civil. "Não podemos depender apenas da iniciativa dessas entidades", insistiu Dilma, segundo relato de um ministro. "O governo precisa entrar nisso."

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Dia do Nordeste

Postado originalmente no Náufragos no Sertão.


Nossa família retornou ao Nordeste em 1995. Era um sonho antigo alimentado por minha mãe e minha avó. Vó Maria é de Itororó, minha mãe de Cândido Sales, aqui na Bahia. Nossos tios e nossa mãe foram para São Paulo em 1975 porque aqui não possuíam nada, nem terra, nem casa, nem escola, nem raiz. Em São Paulo estudaram mais um pouco, um tantinho só, o que estudou mais terminou o ensino fundamental. Trabalharam muito, receberam não tão muito. Perdemos um tio para a violência paulistana, outro permanece lá, vinte e cinco anos de trabalho e vivendo ainda de aluguel. Mas minha vó e minha mãe desejavam voltar. Voltamos.

Apesar de terem morado lá durante vinte anos, a família nunca deixou de ser nordestina. Pais, tios, vizinhos, ao nosso redor sempre tiveram pernambucanos, paraibanos, baianos, cearenses, ‘nortistas’ no dizer geral. E a gente cresceu assim, ouvindo que baiano é preguiçoso, pernambucano é briguento, paraibana é mulher-macho, cearense é cabra perigoso, os paulistinhas eram metidos a bestas, carioca malandro, mineiro cabreiro. Mas de paulistas no meio, só as crianças.

A Bahia na minha mente figurava como alguma coisa entre um paraíso perdido, um deserto sem muros altos ou grades, uma terra de segurança e traquilidade. Quando viemos não faltou gente para dizer que passaríamos fome e cresceríamos analfabetos. Ironicamente nossa vida por aqui foi mais confortável. Eu já estou graduada e o meu irmão está a caminho disso. E nunca fomos ricos. 

Na minha cidade ainda dá pra sair de casa e esquecer de trancar a porta. Os muros não  precisam ser tão altos. Dá pra saber o nome de todos os moradores do bairro e ainda decorar junto o nome dos pais e avós. Pela praça central da cidade desfilam os mais ricos e os mais pobres (e quase não é possível diferenciar um do outro). Não tem escola de rico e escola de pobre, aliás, as escolas da periferia são mais novas e mais conservadas. O pessoal da zona rural, pelo que me consta, vive melhor do que o pessoal da sede, tirando o problema com a falta de água. Mas por lá tem mais emprego. Infelizmente muitos jovens ainda vão embora para buscar oportunidades. Torcemos todos pelo dia em que eles não precisem ir.

Existem diferenças culturais entre o norte e o sul, é óbvio. Mas posso dizer com convicção que não são tão grandes assim. Há problemas aqui e lá, há vantagens lá, há vantagens aqui. No geral, a realidade é a mesma.
E o meu tio de São Paulo sempre telefona dizendo que quer voltar.

Em tempo: 
Coisas que eu só tive aqui no nordeste: um quintal enorme para brincar; jogar bola na rua sem medo de ser atropelada; comer fruta tirada do pé; nadar em rio; passar por baixo do arame da cerca; atravessar mata-burro; beber leite in natura; ovo de galinha caipira; comer pamonha e curau do milho plantado no quintal de casa; ver os velhinhos tirarem os chapéus em respeito às moças que passavam; rezar em procissões; furar o pé em espinho de surucucu; correr com medo de vaca parida; admirar a floração do mandacarú; roubar manga; fazer vassoura de mato; ouvir heavy metal enquanto atravesso o sertão.