sexta-feira, 27 de maio de 2011

A quem serve a transposição das águas do São Francisco?

"O risco final é que, atravessando acidentes geográficos consideráveis, como a elevação da escarpa sul da Chapada do Araripe - com grande gasto de energia!-, a transposição acabe por significar apenas um canal tímido de água, de duvidosa validade econômica e interesse social, de grande custo, e que acabaria, sobretudo, por movimentar o mercado especulativo, da terra e da política", escreve Aziz Ab´Sáber, geógrafo, professor e escritor, em artigo publicado pela Agência Envolverde. Segundo ele, "no fim, tudo apareceria como o movimento geral de transformar todo o espaço em mercadoria".
É compreensível que em um país de dimensões tão grandiosas, no contexto da tropicalidade, surjam muitas ideias e propostas incompletas para atenuar ou procurar resolver problemas de regiões críticas. Entretanto, é impossível tolerar propostas demagógicas de pseudotécnicos não preparados para prever os múltiplos impactos sociais, econômicos e ecológicos de projetos teimosamente enfatizados.
Nesse sentido, bons projetos são todos aqueles que possam atender às expectativas de todas as classes sociais regionais, de modo equilibrado e justo, longe de favorecer apenas alguns especuladores contumazes. Nas discussões que ora se travam sobre a questão da transposição de águas do São Francisco para o setor norte do Nordeste Seco, existem alguns argumentos tão fantasiosos e mentirosos que merecem ser corrigidos em primeiro lugar. Referimo-nos ao fato de que a transposição das águas resolveria os grandes problemas sociais existentes na região semiárida do Brasil.
Trata-se de um argumento completamente infeliz lançado por alguém que sabe de antemão que os brasileiros extra-nordestinos desconhecem a realidade dos espaços físicos, sociais, ecológicos e políticos do grande Nordeste do País, onde se encontra a região semiárida mais povoada do mundo.
O Nordeste Seco, delimitado pelo espaço até onde se estendem as caatingas e os rios intermitentes, sazonários e exoreicos (que chegam ao mar), abrange um espaço fisiográfico socioambiental da ordem de 750.000 quilômetros quadrados, enquanto a área que pretensamente receberá grandes benefícios abrange dois projetos lineares que somam apenas alguns milhares de quilômetros nas bacias do rio Jaguaribe (Ceará) e Piranhas/Açu, no Rio Grande do Norte. Portanto, dizer que o projeto de transposição de águas do São Francisco para além Araripe vai resolver problemas do espaço total do semiárido brasileiro não passa de uma distorção falaciosa.
Um problema essencial na discussão das questões envolvidas no projeto de transposição de águas do São Francisco para os rios do Ceará e Rio Grande do Norte, diz respeito ao equilíbrio que deveria ser mantido entre as águas que seriam obrigatórias para as importantíssimas hidrelétricas já implantadas no médio/baixo vale do rio - Paulo Afonso, Itaparica e Xingó.
Devendo ser registrado que as barragens ali implantadas são fatos pontuais, mas a energia ali produzida, e transmitida para todo o Nordeste, constitui um tipo de planejamento da mais alta relevância para o espaço total da região.
Segue-se na ordem dos tratamentos exigidos pela ideia de transpor águas do São Francisco para além Araripe a questão essencial a ser feita para políticos, técnicos acoplados e demagogos: a quem vai servir a transposição das águas?
Os "vazanteiros" que fazem horticultura no leito dos rios que "cortam" - que perdem fluxo durante o ano - serão os primeiros a ser totalmente prejudicados. Mas os técnicos insensíveis dirão com enfado: "A cultura de vazante já era". Sem ao menos dar qualquer prioridade para a realocação dos heróis que abastecem as feiras dos sertões. A eles se deve conceder a prioridade maior em relação aos espaços irrigáveis que viessem a ser identificados e implantados. De imediato, porém, serão os fazendeiros pecuaristas da beira alta e colinas sertanejas que terão água disponível para o gado, nos cinco ou seis meses que os rios da região não correm.
Um projeto inteligente e viável sobre transposição de águas, captação e utilização de águas da estação chuvosa e multiplicação de poços ou cisternas tem que envolver obrigatoriamente conhecimento sobre a dinâmica climática regional do Nordeste. No caso de projetos de transposição de águas, há de ter consciência que o período de maior necessidade será aquele que os rios sertanejos intermitentes perdem correnteza por cinco a sete meses.
Trata-se, porém, do mesmo período que o rio São Francisco torna-se menos volumoso e mais esquálido. Entretanto, é nesta época do ano que haverá maior necessidade de reservas do mesmo para hidrelétricas regionais. A afoiteza com que se está pressionando o governo para se conceder grandes verbas para início das obras de transposição das águas do São Francisco terá consequências imediatas para os especuladores de todos os naipes.
O risco final é que, atravessando acidentes geográficos consideráveis, como a elevação da escarpa sul da Chapada do Araripe - com grande gasto de energia!-, a transposição acabe por significar apenas um canal tímido de água, de duvidosa validade econômica e interesse social, de grande custo, e que acabaria, sobretudo, por movimentar o mercado especulativo, da terra e da política.
No fim, tudo apareceria como o movimento geral de transformar todo o espaço em mercadoria.

Qui, 24 de Março de 2011 13:18

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O CEDASB PARABENIZA A TODOS TRABALHADORES E TODAS TRABALHADORAS RURAIS PELO SEU DIA!

Os adultos se emocionam ao lembrar os momentos difíceis que vivenciaram no passado e os jovens se entusiasmam com as possibilidades que se apresentam para que eles dêem continuidade ao trabalho desenvolvido por seus pais no campo.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Por que o Semiárido é tratado como inviável?

Esse é o solo do semiárido! Muito produtivo.
Foto arquivo do CEDASB
O semiárido, quase sempre, é tratado como inviável, ou seja, como lugar que não serve para nada e seu povo como incapaz.  


Na  realidade,  nem  o  semiárido  é  inviável  nem  seu  povo  é  incapaz. O  que  ocorre  é  que durante muito tempo e, em muitos casos, ainda nos dias de hoje, as únicas políticas oficiais destinadas à região foram aquelas denominadas de “combate à seca”.
São políticas que estavam e estão voltadas para grandes obras, normalmente destinados a assistir aos mais ricos e que vinham unidas a processos     assistencialistas,  voltados para os mais pobres, como doações, esmolas, distribuição de víveres, carros-pipa e processos semelhantes. Estas políticas nunca  tiveram e não  têm  interesse de resolver as questões e
os problemas.   As ações de combate à seca sempre aparecem como  “atos de bondade”, mas  propositalmente  são  criadas  e mantidas  para  garantir  que  o  semiárido  e  seu  povo permaneçam sem vez e sem voz, dependentes. 
Como se sabe, essas políticas, normalmente são ligadas ao voto e mantêm no poder as mesmas pessoas e grupos oligárquicos, através da compra de votos.
Assim, através de  doações  e  políticas  assistencialistas  não  voltadas  para  resolver  os problemas do povo do semiarido, sempre foi mantida e favorecida a concentração da  terra nos  latifúndios,  nos  grandes  projetos  do  agronegócio,  nas  grandes  fazendas  de  gado. Enquanto isso, “muitos agricultores e agricultoras ainda trabalham em terras alheias ou em minifúndios  superexplorados,  fragilizando  sua  própria  segurança  alimentar”  (ASA,  Ceará, 2006).
De  igual  modo,  durante  muitos  anos  foram  construídos  muitos  poços  e  açudes  no semiárido, mas em terras dos ricos e dos fazendeiros. Por isso, em cada seca ocorrida, os ricos permaneciam mais ricos, possuidores e concentradores de mais água em suas terras - com  mais  terra  e  com  mais  poder.  E  os  mais  pobres,  ou  migravam  ou  ficavam  mais
miseráveis.  Há ainda outras ações que  intensificam os problemas do semiarido. É a educação que é dada  nas  escolas,  aos  filhos  e  filhas  dos  agricultores.  Quase  sempre  é  uma  educação descontextualizada, que coloca na cabeça das crianças a mentalidade de que na roça, na área rural e no semiárido não há possibilidade de vida. Pelo que se estuda, debate, lê e se faz  em muitas  escolas,  conclui-se  que  quem  quer  viver  bem  e  dignamente  não  deveria seguir a trilha e a história dos próprios pais e antepassados, mas sim, migrar do semiárido.
Permanecer no semiárido não seria uma ação inteligente, pois ali não há possibilidade de vida digna (BAPTISTA, 2005; MOURA, 2003; RESAB, 2006).
Toda essa problemática é perpassada, de modo cruel, por uma marginalização das mulheres e, por conseguinte, pela ausência de um debate de gênero. 
 (...)
Texto de:
Naidison de Quintella Baptista: Mestre  em  Teologia,  com  graduação  em  Filosofia,  Teologia  e  Educação.  Secretário  Executivo  do  Movimento  de Organização Comunitária (MOC), membro da Coordenação da ASA Bahia e da Coordenação Nacional da ASA.Presidente do CONSEA-Bahia e membro do CONSEA-Nacional  
Carlos Humberto Campos: Graduado em Sociologia, membro da Equipe Técnica da Cáritas Brasileira – Regional do Piauí e membro da Coordenação Nacional da ASA.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Educadores e gestores são capacitados pelo projeto cisternas nas escolas.

CEDASB finaliza etapa de capacitação do projeto cisternas nas escolas o projeto cisternas nas escolas finalizou, em maio, toda a etapa de capacitação das escolas atendidas pela iniciativa, desenvolvida em 3 municípios da microrregião de Vitória da Conquista.
O projeto Cisternas nas Escolas finalizou, no sábado dia 14 de maio, toda a etapa de capacitação dos professores e gestores atendidas pela iniciativa, desenvolvida em Caetanos, Planalto e Vitória da Conquista.
Foram promovidos 13 capacitações de professores  gestores escolares e comunidade escolar , nos quais  pessoas aprenderam lições de convivência com o semiárido, educação contextualizada e de como lidar com as cisternas, para garantir boa qualidade da água e segurança alimentar dos alunos e de todo o corpo docente da unidade escolar beneficiada . O Cisternas nas Escolas é fruto de parceria da ASA com o Instituto Ambiental Brasil Sustentável (IABS) e o Ministério de desenvolvimento Social e combate a Fome (MDS). O projeto já construiu 28 cisternas nas 55 unidades educacionais selecionadas. A meta é, até o final de maio, finalizar a construção das 55 cisternas nas escolas previstas.

EU MATUTO DA ROÇA
CRIADO NO MEIO DO MATO
NUNCA USEI UMA GRAVATA
NUNCA  CARCEI UM SAPATO
MAIS A TÁ EVOLUÇÃO
MIM LEVOU NUMA REUNIÃO
PRA FALÁ DE ALGUNS FATO
ERA UMA TÁ DE UMA ASA
PRA MELHORÁ A REGIÃO
DE FAZER CAIXA PRA NÓIS
E MELHORÁ O SERTÃO
PRA NÃO BEBÊ ÁGUA RUIM
QUE MATA SEDE DE PASSARIM
QUE MINA NO RIBEIRÃO
NÃO É QUE Ô MENINO FALÔ:
“COM ESSA CISTERNA AQUI
VAI TÊ ÁGUA PRA NÓIS
E TAMBÉM PRA NOSSOS FI
INVÉS DE PEGAR ÁGUA NO BARREIRO
SUJA DE ADUBO DE PULEIRO
TER ÁGUA FRIA E BOA AQUI”
NÃO É CÁ PROFESSORA
QUE INSINA OS MEUS MININO
DISSE QUE A DONA DELA
FALÔ PRA SEU CELESTINO
QUE VAI FAZÊ NA ESCOLA
NÃO É COISA DE ESMOLA
PRA MELHORÁ PROS MININO
DISSE QUE COM ESSA ÁGUA
DÁ ATÉ PRA PRANTAR
CEBOLA, TOMATE, CUENTRO
PROS MININO MERENDÁ
AS COISA DA REGIÃO
E NADA DE IMPORTAÇÃO
QUE VEM DE OUTRO LUGAR
MAS PRA CHEGAR A CISTERNA
TEM QUE A POPULAÇÃO
FALÁ COM MANÉ JOAQUIM
QUE MORA NO BUQUERÃO
PRA PODÊ AJUDÁ
NA HORA DE TRABALHÁ
QUE VAI FAZER MUTIRÃO
AUTOR: MANOEL MESSIAS DE OLIVEIRA
GAMELEIRA II
VITÓRIA DA CONQUISTA – BA
14/05/2011

Matéria encontrada também em CEDASB e PMVC.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

CEDASB completa 5 anos de lutas e conquistas junto ao povo do Semiárido!

         Em 11 de Maio de 2006 nasce o Centro de Convivência e Desenvolvimento Agroecológico do Sudoeste da Bahia – o CEDASB!!!
         Oriundo da luta cotidiana de camponeses e camponesas por um semiárido das possibilidades e viabilidades, o CEDASB hoje completa 5 anos de fundação institucional, uma história regada de muita luta, mas também muito amor, empenho, perseverança e doação de seus membros nas muitas conquistas coletivas alcançadas em benefício do povo sertanejo.
        Nesses 5 anos de vida, executamos vários projetos que tem como objetivo principal a melhoria da qualidade de vida do sertanejo, e sua convivência com a região semiárida. Dentre os projetos que marcaram nossa trajetória destacamos as Cisternas de captação da água das chuvas para consumo humano; as Cisternas de captação da água da chuva para a produção de alimentos e criação de animais; as Cisternas nas Escolas; os Barreiros Trincheira para a dessedentação animal e também para a produção de alimentos; e as Bombas d'água Popular instaladas em Poços artesianos, que desde outrora foram abandonados pelas políticas de governo, inviabilizando seu uso pelas famílias.
          Não se pode deixar de mencionar que essa entidade tem desenvolvido um movimento intenso no campo com suas mobilizações. Registra-se mais de 70 mil pessoas desde as famílias beneficiárias, pedreiros,  Agentes Comunitários Rurais de Saúde articulados e mobilizados no processo de concretização dos projetos nas tantas comunidades acompanhadas pelo CEDASB.
       
Por isso, exclamamos com fervor e amor:


PARABÉNS AO CEDASB!!!! MUITOS ANOS DE VIDA!!!!MUITOS ANOS DE CONQUISTAS!!!.

Contribuição de: Eliane Pereira de Almeida Vale e Eduarda Tamires. 11/05/2011

Comunidade celebra a conquista de tecnologias para convivência com o semiárido

No sábado dia (07) a comunidade do Sobrado, no município de Encruzilhada, realizou uma celebração em comemoração aos benefícios que agricultores e agricultoras familiares receberam através dos projetos gestados pelo CEDASB. A comunidade foi contemplada com três tecnologias executadas pelos seguintes projetos:  Projeto Cisternas, Programa  de Formação e Mobilização Social para Convivência com o Semiárido (P1MC) e o Projeto Aguadas.

Estiveram presentes na comemoração além das famílias beneficiárias, membros da equipe técnica do CEDASB, o Diretor Presidente do CEDASB Sr. Gilvan Coutinho e o Engenheiro Agrônomo Élcio Risério.

Dona Clemeência, Agricultora Beneficiária da Comunidade de Sobrado, Encruzilhada

O dia do Encontro foi marcado pela visita de alguns membros da equipe técnica do CEDASB e outros parceiros. Após uma acolhida , o grupo pôde conhecer o processo de luta da comunidade, que através da mobilização social conquistou projetos e, aos poucos, tem a sua realidade modificada como conta Dona Clemência, “A comunidade aos poucos foi encontrando o caminho da organização através de ações desenvolvidas pela associação e parceiros”. Foi a partir dessas lutas que Dona Clemência e a comunidade puderam reverter a história sofrida em história de conquista e alegria. A agricultora teve a vida marcada por lutas e muito trabalho“Após a chegada da cisterna de consumo humano as coisas ficaram melhor, já tinha água perto de casa, para mim e minhas filhas, depois veio a cisterna de produção e ainda os barreiros, tudo isso junto mudou demais a nossa vida”,  partilha Dona Clemência com o grupo.

Equipe técnica do CEDASB

O evento foi marcado pela história de luta e conquistas de homens e mulheres que fazem do semiárido um lugar viável através das suas experiências.












Do: CEDASB
Texto de Itana Fagundes, Comunicadora Popular do CEDASB.