quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Novos rumos para o Brasil?


Por Leandra Silva*

Estamos na reta final de mais uma campanha eleitoral. Uma experiência recente para o Brasil que assumiu historicamente grande importância por se tratar de uma expressão baseada nos pressupostos democráticos onde a participação política do povo, que tem no voto sua principal forma de expressão de sua vontade política, se faz importante para determinar os rumos do país.

Mais uma vez somos convidados a utilizar a ferramenta do voto como expressão de cidadania para ajudar a escolher novos governantes para o Brasil. O voto que ora fora instrumento de exclusão assume, nesse processo, um caráter igualitário. Todos são iguais e têm em suas mãos o poder de decidir.

A decisão, portanto, deve passar pela análise criteriosa do programa de governo de cada candidato e candidata. Pois, é pelo programa de governo que cada um vai defender um projeto de política econômica que perpasse todas as áreas de atuação do governo. O plano de governo deve ainda se propor a formular novos campos, mecanismos e instrumentos para a atuação e intervenção do Estado de forma a dinamizar as economias locais e melhorar os setores da vida social.

É preciso escolher governantes que assumam diretrizes gerais e tarefas que serão cumpridas ao longo de todo o mandato. Diretrizes e tarefas essas que façam parte de um plano estratégico de desenvolvimento pautado na inclusão social e no respeito ao meio ambiente.

O desenvolvimento do qual estamos defendendo deve cumprir com a missão histórica de preconizar um tipo de mudança estrutural na sociedade brasileira que tem a ver com os conceitos de igualdade e justiça social. Não queremos, portanto, que o programa de governo navegue pela ilha das utopias. É preciso partir das circunstâncias presentes e das condições concretas para que se possam emplacar reformas que historicamente os governos não conseguiram realizar.

A receita para que o Brasil possa caminhar rumo ao desenvolvimento já foi dada por muitos. Mas gostaria de lembrar aqui dos arcabouços teóricos do ilustre Celso Furtado em sua obra Mito do Desenvolvimento econômico que defende que é preciso romper com a reprodução das formas de consumo de países tidos como cêntricos que atigem apenas uma minoria beneficiária pelo capitalismo periférico que é o principal responsável pela permanente concentração de renda.

No tempo em que o desenvolvimento assume papel de destaque nas propostas dos candidatos, fica implícito o desafio de uma agenda para o próximo governo que adote uma política macroeconômica e uma arquitetura institucional que promova um desenvolvimento com base em uma estrutura produtiva e tecnológica adequada e regionalmente integrada. Que a proteção social, a garantia dos direitos e a geração de oportunidades venham acompanhadas pelo fortalecimento do Estado, das Instituições, da democracia e da participação popular nos espaços de decisão.

O novo rumo que o Brasil vai assumir no próximo governo deve exercer um papel central na ruptura dos elementos que promovem a dependência dos povos, as assimetrias sociais e as disparidades educacionais e tecnológicas.

*Cursando III Semestre de Ciências Econômicas na Universidade Estadutal do Sudoeste da Bahia - UESB.

*Texto publicado originalmente em:  http://paposdeconomistas.blogspot.com/ 

terça-feira, 28 de setembro de 2010

CEDASB realiza Capacitação em Confecção de Bombas Manuais



Curso de Bombas para Cisterna de Consumo.
Foto de Geremilson Sousa. Arquivo do CEDASB.
 
O Centro de Convivência e Desenvolvimento Agroecológico do Sudoeste da Bahia - CEDASB realiza hoje e amanhã (28 e 29 de Setembro de 2010), no antigo Colégio Diocesano, na Praça Sá Barreto em Vitória da Conquista a capacitação em confecção de bombas manuais para jovens oriundos das comunidades onde os projetos estão sendo implementados. A capacitação conta com participantes dos municípios de Poções, Mirante, Bom Jesus da Serra e Vitória da Conquista.
O objetivo da capacitação é inserir os jovens nos espaços de aprendizagem promovidos pelo CEDASB e torná-los multiplicadores , além de prepará-los para que possam confeccionar bombas hidráulicas manuais que serão utilizadas para retirar água das cisternas que suas famílias foram beneficiadas.
Jovens das comunidades participando do Curso.
Foto de Geremilson Sousa, Arquivo do CEDASB
A programação para os dois dias inclui discussões sobre convivência com o semiárido a partir da metodologia de trabalho da Articulação no Semiárido Brasilero - ASA, bem como atividades práticas de confecção de bombas.
Além de receberem a cisterna destinada ao consumo humano e aprenderem a confeccionar a bomba, esses jovens também vão adquirir ao longo desses dias, conhecimento para que sejam mais um multiplicador dessas ações junto a sua comunidade. Essa estratégia de envolver toda a família nas ações é o grande diferencial do trabalho desenvolvido pela ASA.

Texto de Eduarda Tamires e Leandra Silva.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

25 de Setembro Dia da Responsabilidade Social

O Dia da Responsabilidade Social acontece no segundo semestre de cada ano. Trata-se de um dia onde toda a comunidade acadêmica se torna voluntária para oferecer à sociedade diversos serviços, tais como:

aconselhamento jurídico;
ajuda para elaboração de orçamentos domésticos;
aferição de pressão arterial;
recreação infantil;
consultas médicas;
serviços de maquilhagem, depilação e corte de cabelos;
palestras preventivas sobre DST;
ações preventivas da Defesa Civil
cursos diversos;
expedição de Carteira de Trabalho, Carteira de Identidade e Certidão de Nascimento;
e distribuição de brinquedos e alimentos

Este dia só é possível de ser realizado graças à participação e o comprometimento de Fundações e Empresas que disponibilizam alimentos e mão-de-obra qualificada para as atividades e o grande auxílio prestado na preparação e organização do evento pelos nossos alunos, professores e funcionários em regime de voluntariado.

Disponível em: faculdadeparaiso

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Gênero e o Semi-Árido

A cena das mulheres carregando latas d’água na cabeça é clássica. Sua estética  já  foi captada por muitos artistas. Caminhando esguias e  retilíneas, posição  forçada pelo equilíbrio da  lata na cabeça, as mulheres realizam um desfile pelas estradas calcinadas do  sertão. Também é o momento  em que  elas  se  encontram  a  sós,  longe dos homens,  e onde podem conversar os assuntos pessoais. O poço, a fonte, a água é o lugar do encontro do feminino, de conversas íntimas, da socialização de problemas, sonhos e desejos. No mundo inteiro, abastecer os lares com água é tarefa das mulheres de todas as idades, inclusive crianças. Há uma  relação  íntima entre a água e o  feminino. No Semi-Árido, a relação não é diferente. Ela revela a divisão de papéis  familiares e de trabalho entre os sexos.
Mas a beleza rude da cena não pode ocultar o sofrimento imposto ao corpo. Submetidas a esse serviço desde crianças, as mulheres carregarão na pele, nos músculos e nos ossos a dureza de um trabalho repe-
titivo e pesado. Com os anos, os ombros alargam, as batatas das pernas enrijecem, os problemas de coluna aparecem.
Por  que  um  trabalho  tão  duro  recai  sobre  as mulheres? Talvez porque abastecer os recipientes seja considerado uma extensão do trabalho doméstico, aquele que se  faz da porta para dentro. Ao homem cabe  cuidar da  roça  e dos  animais –  embora  as mulheres  também o façam –, ou seja, do serviço que se faz da porta para fora.
Estamos  longe de  superar  esse problema. Quando  a  água  está  a mais de mil metros da casa, a situação é especialmente grave. Por isso, a facilitação do acesso à água mexe também com a questão de gênero,
olimpicamente distante das análises tecnocráticas.
O alívio do trabalho feminino começa a surgir com as cisternas de placas construídas no pé das casas. Quem está longe, ou raciocina a partir da água encanada, não pode compreender o peso que essa inovação retira das costas de mulheres e crianças. Para falar sobre isso, compus a música Beleza iluminada.

Beleza Iluminada
Eu tô falando da beleza iluminada
Que no sertão nasceu com jeito de menina
De madrugada ela segue pela estrada
Caminhando com leveza feito uma bailarina
Nesse cenário que contém rara beleza
A lata d’água se equilibra na cabeça
E a menina segue esguia e retilínea
Juntando a delicadeza com a força feminina
Ai, ai, ai....
É a lata d’água naquele vai que num vai
Cai, cai, cai, cai
É o balanço da cintura que balança
Mas num cai.
E vai sonhando, apesar das incertezas,
Que o sofrimento seja coisa do passado
Que o seu corpo seja só luz e beleza
O gingo de passista e o jeito de princesa
Que o seu corpo fque leve, lindo e solto
E libertado desse peso duro e morto
A sua aura seja plena de alegria
Para o amor que, com certeza,
Ela encontrará um dia.



Texto e Música de Roberto Malvezzi. Disponível em :Portal.mda.


Famílias Beneficiadas aprendem a Gerenciar os Recursos Hídricos

O período de capacitações do Programa Um Milhão de Cisternas P1MC está em andamento em 3 municípios do sudoeste baiano. As famílias capacitadas receberão explicações sob o ciclo da chuva, como manusear o solo, noções de saúde, higiene entre outros.
A série de capacitações sobre gerenciamento de recursos hídricos, realizada no semi árido baiano pelo Centro de convivência e desenvolvimento agroecológico do sudoeste da Bahia (CEDASB) começou no mês de junho com resultados positivos. Os treinamentos envolveram até o momento 484 famílias dos municípios de Mirante, Bom Jesus da Serra e Poções. A atuação é viabilizada através do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), da articulação do semi-árido brasileiro.
Clemente Alves da Silva Morado, integrante da comunidade de Três Barras no município de Bom Jesus Da Serra, relatou que a luta pela garantia da água de qualidade para sua família é muito grande. “Foi bom demais a chegada desta caixa para o nosso futuro, foi uma benção de Deus, á água da caixa é a maior riqueza que eu já recebi, e com este curso eu aprendi como cuidar dela para durar a vida toda”.
A lavradora Luceni Paixão da Silva Cunha de 30 anos, também moradora da comunidade de Três Barras, relatou a sua satisfação em receber o benefício e principalmente o conhecimento adquirido na capacitação. “Vamos ter mais qualidade de vida e as doenças que nós aqui tínhamos vão acabar. As explicações que nós recebemos de cuidados com a cisterna, ciclo da chuva e como utilizar melhor o solo foi muito boa. O que eu aprendi aqui no curso vou repassar para todos que não tiveram oportunidade de participar.” finaliza.

A capacitação - Os princípios dos assuntos abordados nas capacitações são: Como utilizar corretamente as cisternas; a importância do envolvimento da comunidade com as associações comunitárias; formas de convivência com o semi árido;questões  sobre  gênero;entre outras. As famílias também têm a oportunidade de compartilhar experiências durante os dois dias de capacitação com as dinâmicas de grupo e participam de discussões sobre informações cidadãs.

Itana Fagundes 01/09/2010

As capacitações que a ASA faz é o seu grande diferencial.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O que o CEDASB significa para você?

Projeto Cisterna nas Escolas

É possível conviver de forma sustentável com o semiárido? Um Projeto inovador executado no país está provando que sim. É possível.
Fruto de uma ação desenvolvida pelo Centro de Assessoria do Assuruá (CAA), junto com a Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), os ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e da Educação (MEC), e o governo da Bahia, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (Sedes), o Projeto Cisternas nas Escolas tem como objetivo contribuir para a cidadania de mais de quatro mil pessoas de 13 municípios baianos com piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH).
O Projeto tem como meta construir até 2011 cisternas para consumo humano em 43 escolas e nas residências de 811 famílias das crianças pertencentes a essas unidades educacionais. Para que isso seja possível, o Projeto está utilizando a tecnologia para captação de água da chuva, aliando assim dois importantes aspectos: o estímulo a uma educação contextualizada para convivência com o semiárido e a oferta de água potável para a população. Também estão sendo implantadas, a partir da construção das cisternas, hortas comunitárias nas escolas a fim de promover segurança alimentar na região.
Para garantir que a água potável chegue para o semiárido brasileiro, trazendo cidadania e esperança para aqueles que mais precisam, o Projeto prevê que as unidades escolares, que deverão receber cisternas com capacidade de 30 mil litros, se enquadrem em critérios estabelecidos pelos Ministérios do Desenvolvimento Social e da Educação. As escolas devem se encontrar obrigatoriamente na zona rural do semiárido, possuir sede própria, telhados construídos em telhas de barro e, no máximo, 32 alunos e não ter acesso à água. Já as famílias beneficiadas com cisternas de 16 mil litros devem estar inscritas no Programa Bolsa Família, ter considerável número de crianças de 0 a 6 anos, idosos, deficientes físicos e mulheres como chefes de família.

Fonte: CAAcom

O TRABALHO DA ASA SUSCITANDO OUTROS OLHARES

A Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) nasce da luta das organizações sociais. Nos seus 10 anos de atuação e trabalho árduo, a Articulação tem realizado mudanças significativas, e quiçá revolucionárias, no campo, no sentido da independência de camponeses e camponesas quanto ao acesso a água, e ao chamado “voto de cabresco”.
Mas as conquistas das ações da ASA estão intimamente ligadas ao seu caráter coletivo de luta. Consciente de que, individualmente, pouco se consegue mudar a região, a Articulação se faz em rede unindo forças com as mais de 750 entidades, que se imbuíram dessa luta de possibilidades, para pressionar o governo no intuito de se implementar políticas públicas estruturantes, para organizar as comunidades rurais, para fortalecer o campesinato do sertão  nordestino, viabilizando a sua permanência na terra, já que essa está intrinsecamente relacionada ao acesso a água – para uso doméstico e para a produção agrícola, e a terra para produzir.
 Contrariando os discursos da oligarquia regional, a ASA incita as discussões acerca das possibilidades e potencialidades do sertão. O projeto pioneiro resultante das discussões e estudos sobre a região é nomeado de P1MC – Projeto de formação e mobilização social para a convivência com o semi-árido: 1 milhão de cisternas rurais. Esse projeto nasce da necessidade primaz da população sertaneja: o acesso a água de qualidade para o consumo humano. Isto porque, como já se sabe, dentre as peculiaridades do sertão temos uma pluviosidade irregular no tempo e espaço, um alto índice de evapotranspiração, solos rasos e pedregosos, e uma vegetação pouco densa e xerófila. Todas essas especificidades dificultam o armazenamento da água, por isso a necessidade de traçar estratégias de convivência com as adversidades climáticas, como a encontrada pela ASA – a captação da água das chuvas via telhado num sistema simples e eficaz de canalização e armazenamento, para o abastecimento da família durante o período de estiagem, cerca de 8 meses, no que tange ao suprimento das necessidades básicas: água para beber e processar os alimentos (cozinhar).    


A primeira lei da convivência com o Semi-Árido, então, é a captação inteligente da água da chuva, uma prática milenar, usada pelo povo de Israel desde os tempos bíblicos. A abundância de água em território brasileiro fez com que essa prática fosse quase abandonada. Só recentemente o Plano Nacional de Recursos Hídricos desenhou os primeiros rumos para uma política nacional de captação da água de chuva para consumo humano, consumo animal e agricultura. (MALVEZZI, 2007, p.13)


A solução para o problema, segundo a ASA, está na implementação de tecnologias atinentes a esta realidade. E nesse sentido, o trabalho que a ASA tem desenvolvido vem mostrando resultados significativos para melhoria da qualidade de vida do sertanejo. As tecnologias trabalhadas são todas voltadas para a realidade climática da região, prioriza o investimento em estruturas fechadas para o armazenamento de água favorecendo um baixo índice de evaporação. Dentre as tecnologias destaca-se a cisternas de placas – armazenamento de água para o consumo humano (16 mil litros); cisternas de placas para a produção agrícola ( 50 mil litros); barragens subterrâneas (aproveita-se as enxurradas nos declives do solo, e na superfície encharcada viabiliza a produção de alimentos ), e outras.

Um fator importante, de relevância substanciosa, é o aspecto metodológico das ações que acontece de forma inclusiva. A ASA, por meio de capacitações populares, promove momentos de reflexão e conscientização dos agentes sociais envolvidos na totalidade da luta, informando-os sobre as diversas propostas de ações no campo, seus benefícios e malefícios, como as questões acerca da monocultura, do agronegócio, da desertificação, dos transgênicos, da necessidade da conservação das sementes, e elucidando veementemente a importância da organização social como instrumento de fortalecimento político e critico.
Todas as atividades para a materialização do projeto gerido pela ASA são desenvolvidas com a participação direta de todos os beneficiários, desde as escolhas das famílias até a execução da obra/tecnologia.
“Mobilizar, pois, é convocar vontades – escolha; é convocar sentimentos – paixão; é convocar razoes – convicção, em torno da concretização em ações do objetivo comum do P1MC.” (ASACOM, 2002, p.21)
As comunidades se envolvem nos debates e trabalhos realizados, e também nas decisões estratégicas da implementação das cisternas. Dentre as etapas, as quais se engajam a comunidade, destaca-se:
v  a mobilização da comunidade e das famílias, onde são escolhidos os beneficiários;
v   a capacitação das famílias escolhidas, por meio do Curso de Gerenciamento de Recursos Hídricos, onde os envolvidos aprenderão sobre as peculiaridades da  região que mora e discutir as possibilidades de convivência com a seca, e em primazia, serão capacitados a manusear a água da cisterna, tanto para evitar o seu desperdício e contaminação;
v  a construção, propriamente dita, das cisternas, a qual tem o envolvimento direto das famílias no processo de feitura. 
v  Encontros microrregionais onde os produtores rurais são informados da gerência dos recursos públicos utilizados para a implementação dos projetos (prestação de contas). E nesse encontro os participantes tem a oportunidade de trocar experiências, e se capacitar nos debates acerca dos assuntos que lhe são pertinentes e importantes, como, por exemplo, os rumos da agricultura local, estadual e regional.
A Articulação no Semi-Árido tem realizado um trabalho substancial para a permanência de camponeses e camponesas da região semi-árida, com mais dignidade e respeito à suas culturas, valorizando suas experiências, compartilhando novos conhecimentos à vida do produtor sem lhes tirar a autonomia de sua vida e produção.  

Texto de Eliane Almeida, estudante do 7 º semestre de Geografia na UESB

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A LEITURA REVERSA DA REGIÃO SEMI-ÁRIDA

Munidos de um arcabouço histórico das formas como se estabeleceram nos territórios as estruturas sob o controle ora do Estado, ora do capital, e ora ambos concomitantemente, é que se possibilita a leitura mais crítica da conjuntura política, econômica e social a qual está inserida a região semi-árida nordestina.
No tempo e no espaço, o semi-árido registra discrepantes realidades, desde o controle de terras, da água, da má distribuição de renda, da emigração latente dos campesinos para as metrópoles, em busca do assalariamento para a manutenção de sua prole, mesmo que isso lhe custe a autonomia e controle de seu trabalho.
O semi-árido brasileiro dispõe de peculiaridades, as quais são utilizadas politicamente como justificativas, e defendidas como empecilhos à seu desenvolvimento econômico e social. Uma verdadeira tautologia ideológica de conivência, através da qual, políticos conservadores da oligarquia local, consolidaram suas carreiras sob a tutela de resolver os problemas da região, deixando a mercê de suas vontades, milhares de trabalhadores e trabalhadoras do campo.
As especificidades do ecossistema semi-árido possibilitaram um modo de ocupação e um sistema de agentes que fizeram, em conjunto, um espaço muito particular. Este espaço tem sido apresentado historicamente pelo filtro de uma conscientização coletiva das dificuldades impostas por esse meio, que depende dos azares climáticos. A natureza, [...], é fortemente idealizada e trabalhada nos discursos, da e sobre a região, como um obstáculo intransponível a qualquer progresso ou justiça espacial. (CASTRO, 1996, p. 297)
A seca (fenômeno) é considerada a característica que define a realidade no/do semi-árido e toda sua problemática. Tomada como causa única, ações diversas foram direcionadas e implementadas no território à luz da perspectiva de combatê-la, como se fosse uma “praga”, uma “infestação de insetos”, o que é inadmissível na atualidade a manutenção desse discurso retrógrado e insubstancioso.
O argumento agrário das elites política e oligárquica permeia pelas vias da modernização do campo para a ascensão econômica e social, e como o único meio de superar as dificuldades impostas pelo clima. CASTRO (1996) fortalece essa discussão, e esclarece que os discursos dos atores sociais dominantes no nordeste, e consequentemente no semi-árido, são contraditórios ao persistirem em propostas de modernização enquanto meio de desenvolvimento, enquanto tacitamente se instrumentalizam e se articulam no intuito veraz dos seus interesses, que é a conservação das estruturas agrárias e na preservação do monopólio fundiário.
Os meios de comunicação também são eficazes disseminadores do ideário de um sertão miserável, legitimando os discursos coniventes com os interesses das classes dominantes, por meio dos elementos iconográficos que expressam basicamente às situações extremas nos períodos de estiagem prolongadas (terra seca, animais magros e até mortos, açudes e rios secos, dentre outros). Tal paradigma desvia o foco das potencialidades e possibilidades regional, focalizando na problemática climática, contribuindo para que os investimentos na região sejam paliativos, ao invés de estruturantes.
Dentre as políticas de cunho tecnicistas de impulso ao crescimento econômico e “social”, é pertinente elencar, por exemplo, a SUDENE, a qual já foi citada anteriormente, e o DNOC’S (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), criado em 1909 com o objetivo de combater as secas no nordeste brasileiro, por meio de ações verticalizadas na implementação de açudes pelo território. Sobre esse assunto aludemo-nos a Malvezzi (2007):
Se o Semi-Árido brasileiro é hoje uma das regiões mais açudadas do planeta, em grande parte isso se deve ao Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). São aproximadamente 70 mil açudes. Fundado em 1909 como Inspetoria de Obras Contra as Secas (Iocs), depois Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (Ifocs), o órgão pretendia fazer o combate à seca, objetivo que hoje parece anacrônico, já que sabemos que ninguém acaba com fenômenos naturais, como secas, chuvas e incidência de neve. Mas a causa era nobre, já que a população nordestina, sem rios perenes, mas tendo boa pluviosidade em todo o sertão, enfrentava o problema de não ter estoques de água em tempos sem chuva. (p.67)
Em contraposição a este modelo de desenvolvimento e organização das políticas públicas, a sociedade civil organizada (ONGs, Sindicatos, entidades diversas, instituições religiosas, Movimentos sociais, dentre outros) tem lutado arduamente para desmistificar o paradigma de miséria difundido, propondo projetos de implementação de políticas públicas, com atuação efetiva e primaz das comunidades rurais e seus representantes, bem como os setores sociais que comungam da mesma perspectiva e objetivos de suscitar um olhar diferenciado da região semi-árida e de sua população.

Texto de Eliane Almeida, estudante do 7 º semestre de Geografia na UESB.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

SONHO DA CASA PRÓPRIA

No semiárido, onde vivem 20 milhões, a exclusão hídrica gera doenças e tira crianças da escola

 

SERTÂNIA (PE)- Mãe de seis filhos e grávida do sétimo, Maria do Socorro Pereira, de 35 anos, abandonada pelo companheiro, chora quando fala das dificuldades para conseguir água na zona rural de Sertânia, no sertão pernambucano. Sem água encanada em casa, ela só tem dois pequenos baldes, o que obriga os filhos a andar muitas vezes por dia para conseguir o que beber. Cansados, quatro deles deixaram a escola, e Socorro perdeu o auxílio do Bolsa Família:
- Depois da falta de água, a fome - reclama.
 " Depois da falta de água, a fome "

A universalização da água ainda é um sonho distante para boa parte dos 20 milhões de nordestinos que residem no semiárido, dos quais 9 milhões nas áreas rurais, mostra reportagem de Letícia Lins, publicada na edição deste domingo do GLOBO. Em Pernambuco, a Companhia de Abastecimento de Pernambuco (Compesa) calcula em 94% a cobertura da população urbana. Mas na área rural os percentuais são tão insignificantes que nem sequer aparecem nas estatísticas.

A situação poderia ser ainda mais crítica nos vilarejos e distritos onde as adutoras estão distantes de chegar. Mas não é pior devido à maior mobilização da sociedade civil em defesa do fim da sede dos sertanejos. São 18 mil organizações populares que atuam na região e garantem o armazenamento de 5 bilhões de litros de água, através do Programa Um Milhão de Cisternas (PIMC). O programa, disseminado sob a coordenação da Articulação do Semiárido (Asa) nas regiões do agreste e sertão do Nordeste, garante água para um milhão 290 mil e 233 pessoas que antes dependiam do caminhão pipa ou do leito sujo de barreiros. Neles, durante as secas, os homens chegam a disputar o líquido dos reservatórios com os animais, sejam vacas, bodes, jegues, porcos ou cachorros.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, em 2008, 82,31% dos domicílios do país contavam com rede de abastecimento de água. Segundo um estudo ainda não publicado pelo Centro de Pesquisas Ageu Magalhães - órgão da Fiocruz em Recife -, o risco da ocorrência de diarreias em domicílios sem cisternas é 79% maior do que entre as famílias que as possuem. A investigação mostrou, também, que a prevalência da doença entre os que não têm o equipamento chega a 24,5% em adultos e crianças e cai para 7,7% entre os que contam com cisterna. Para se ter uma ideia do problema, no mundo, cerca de 1,8 milhão de crianças morre todo os anos devido ao consumo de água suja, exatamente como a que o sertanejo sem reservatório consome.
Coordenadora da Rede das Águas, da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro diz que a "exclusão hídrica" não é um problema que atinja somente o semiárido:
- Existe a falsa ideia de que só acontece no sertão, mas pessoas que vivem no Rio, em São Paulo e em outros centros urbanos enfrentam o mesmo problema. E vale lembrar que o Brasil detém a segunda maior reserva de água doce do planeta.

Fone: Oglobo.com

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Gente!!!! Ainda há tempo para votar SIM pelo limite das terras no Brasil!!

Em alguns municípios em que o CEDASB atua estaremos com urnas para que o povo possa mostrar seu poder popular e por fim na escravidão, violência, degradação do meio ambiente, concentração de renda e miséria que é o latifúndio. Você também pode ajudar, não só com seu voto, você pode divulgar a campanha! Monte sua urna com 3 pessoas (mesários) responsáveis pela mesma e colete votos. Informe-se no site http://www.limitedaterra.org.br/ .
Limitar o tamanho das terras no Brasil é muito mais que questão ética. É um passo fundamental para construirmos uma sociedade melhor, onde nossos camponeses vão ter ascesso a terra para produzir mais, já que são eles os responsáveis pelo alimento na mesa do brasileiro. Esse é só um pequeno grande salto que daremos com intuito de conseguir a tão sonhada "Reforma Agrária".

O Plebiscito é até dia 07 de setembro, onde findaremos com o grito dos excluídos!!!


por Eduarda Santos.


                Vote SIM pelo limite das terras no Brasil!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Edital 2º Pregão do CEDASB

Acontecerá no próximo dia 13 de setembro, no antigo Colégio Diocesano, às 08:00 horas o Credenciamento e entrega dos envelopes da habilitação e das Propostas; às 10:00 horas abertura da sessão e das prpostas e lances.

o Edital está disponível no site: Rádio Nova Vida FM

2° encontro cultural de Anagé-Ba

Acontece nos dias 04, 05 e 06 de setembro o 2° encontro cultural de Anagé-Ba, um projeto sem fins lucrativos que visa levar musica de qualidade a população além de abrir espaço para novos músicos da região. Se você é musica ou é apenas gosta de uma boa musica apareça e apóie esse evento!
Lembrando que todos os artistas são filhos de Anagé!