Com o tema ‘Agricultura na
América Latina’, o engenheiro agrônomo Marc Dufumier esteve em Vitória da
Conquista nesta terça (02), para ministrar uma palestra na Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). “Iniciei as pesquisas sobre a agricultura
praticada na América Latina a partir da minha curiosidade a respeito de algumas
práticas dos agricultores daqui, especialmente o porquê de se buscar tanto o
aumento das áreas de plantio. Na França sempre se buscou aproveitar as terras
que estavam disponíveis”, disse o francês, explicando o motivo pelo qual passou
a pesquisar a agricultura praticada nos países latino-americanos.
O agrônomo, que também é
pesquisador e diretor da unidade de pesquisa “Agricultura Comparada e
Desenvolvimento Agrícola” do Instituto Agro-Paris-Tech, esteve na presença de
estudantes de agronomia, professores e profissionais do ramo, em atividade
realizada no auditório do CAP.
O palestrante, especialista em
políticas e programas para o desenvolvimento sustentável da agricultura nos
países em desenvolvimento, fez uma breve contextualização histórica das
práticas agrícolas latino-americanas ao longo do tempo e depois discorreu sobre
o que chamou de “erros do passado”: as monoculturas, as criações extensivas de
gado e a busca constante por maiores extensões de terra para plantar através do
desmatamento das vegetações nativas.
De uma forma didática, Dufumier
enumerou as consequências deste modelo de agricultura, criticando a busca de
economias de escala sem considerar os custos ambientais, a utilização exagerada
de pesticidas e adubos químicos que causam a contaminação das águas, do ar, dos
solos e dos alimentos. “Descobrimos hoje, que um grande número de pesticidas
causa danos à saúde, ocasionando doenças como câncer, doenças degenerativas
como Alzheimer e problemas de fertilidade, então um dia é preciso pagar por isso”,
diz, enfatizando as consequências de longo prazo da ingestão de alimentos
contaminados por agrotóxicos no organismo.
A especialização exagerada, com a
simplificação e fragilização dos ecossistemas, ganhou destaque como um fator
crítico para a prática agrícola, pois acarreta a perda de biodiversidade e
desequilíbrios ecológicos, citando os exemplos das ervas daninhas resistentes
aos herbicidas e as espécies invasoras, efeitos colaterais clássicos das
monoculturas.
Além das consequências negativas
para a natureza e a saúde pública, o pesquisador francês considerou ainda os prejuízos
sociais do agronegócio, que afastam o agricultor e a agricultora familiar do
campo, devido à impossibilidade destes terem acesso a condições satisfatórias
para produzir, o que acarreta a insegurança alimentar de toda uma parcela da
população. Para ele, é preciso oferecer mecanismos, por meio de políticas
públicas, que possibilitem aos pequenos agricultores acesso a melhores
condições para exercer a atividade agrícola.
A via do futuro: a agroecologia
Monsieur Dufumier apontou a agroecologia como o caminho mais viável
para o futuro da agricultura em todo o mundo. Segundo ele, somente com o
trabalho do agricultor em harmonia com o ecossistema, privilegiando o consórcio
de culturas e a cobertura permanente dos solos pode-se garantir a
sustentabilidade da prática agrícola. A gestão das águas entre os solos e os
subsolos e a associação da agricultura com a criação de animais também foram
pontos chave equacionados em sua explanação.
Finalizando, Marc Dufumier resume
a convicção do seu trabalho. “Eu gostaria de dizer a vocês tecnicamente: eu sou
muito otimista que seja possível alimentar todo mundo com uma agricultura
sustentável, que faça uso intensivo da energia do ar, do sol, dos elementos do solo,
respeitando o equilíbrio ambiental e que essa agricultura deve ser acessível
aos mais pobres, promovendo o acesso aos meios para que eles possam produzir e
comercializar sua produção, mas isso é impossível se não houver reforma
agrária”.
De Vitória da Conquista, Marc
Dufumier segue para Ilhéus para compor a mesa do Congresso VII SOBER Nordeste:
Políticas públicas, agricultura e meio ambiente, que será realizado de 03 a 05
de Outubro na Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus-BA.
Que bom saber que têm pessoas que estudam e pensam numa Agricultura associada a Ecologia. Parabéns ao agrônomo Marc Dufumier e a Rodrigo pela bela matéria. Renata Patrícia.
ResponderExcluir