A Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) nasce da luta das organizações sociais. Nos seus 10 anos de atuação e trabalho árduo, a Articulação tem realizado mudanças significativas, e quiçá revolucionárias, no campo, no sentido da independência de camponeses e camponesas quanto ao acesso a água, e ao chamado “voto de cabresco”.
Mas as conquistas das ações da ASA estão intimamente ligadas ao seu caráter coletivo de luta. Consciente de que, individualmente, pouco se consegue mudar a região, a Articulação se faz em rede unindo forças com as mais de 750 entidades, que se imbuíram dessa luta de possibilidades, para pressionar o governo no intuito de se implementar políticas públicas estruturantes, para organizar as comunidades rurais, para fortalecer o campesinato do sertão nordestino, viabilizando a sua permanência na terra, já que essa está intrinsecamente relacionada ao acesso a água – para uso doméstico e para a produção agrícola, e a terra para produzir.
Contrariando os discursos da oligarquia regional, a ASA incita as discussões acerca das possibilidades e potencialidades do sertão. O projeto pioneiro resultante das discussões e estudos sobre a região é nomeado de P1MC – Projeto de formação e mobilização social para a convivência com o semi-árido: 1 milhão de cisternas rurais. Esse projeto nasce da necessidade primaz da população sertaneja: o acesso a água de qualidade para o consumo humano. Isto porque, como já se sabe, dentre as peculiaridades do sertão temos uma pluviosidade irregular no tempo e espaço, um alto índice de evapotranspiração, solos rasos e pedregosos, e uma vegetação pouco densa e xerófila. Todas essas especificidades dificultam o armazenamento da água, por isso a necessidade de traçar estratégias de convivência com as adversidades climáticas, como a encontrada pela ASA – a captação da água das chuvas via telhado num sistema simples e eficaz de canalização e armazenamento, para o abastecimento da família durante o período de estiagem, cerca de 8 meses, no que tange ao suprimento das necessidades básicas: água para beber e processar os alimentos (cozinhar).
A primeira lei da convivência com o Semi-Árido, então, é a captação inteligente da água da chuva, uma prática milenar, usada pelo povo de Israel desde os tempos bíblicos. A abundância de água em território brasileiro fez com que essa prática fosse quase abandonada. Só recentemente o Plano Nacional de Recursos Hídricos desenhou os primeiros rumos para uma política nacional de captação da água de chuva para consumo humano, consumo animal e agricultura. (MALVEZZI, 2007, p.13)
A solução para o problema, segundo a ASA, está na implementação de tecnologias atinentes a esta realidade. E nesse sentido, o trabalho que a ASA tem desenvolvido vem mostrando resultados significativos para melhoria da qualidade de vida do sertanejo. As tecnologias trabalhadas são todas voltadas para a realidade climática da região, prioriza o investimento em estruturas fechadas para o armazenamento de água favorecendo um baixo índice de evaporação. Dentre as tecnologias destaca-se a cisternas de placas – armazenamento de água para o consumo humano (16 mil litros); cisternas de placas para a produção agrícola ( 50 mil litros); barragens subterrâneas (aproveita-se as enxurradas nos declives do solo, e na superfície encharcada viabiliza a produção de alimentos ), e outras.
Um fator importante, de relevância substanciosa, é o aspecto metodológico das ações que acontece de forma inclusiva. A ASA, por meio de capacitações populares, promove momentos de reflexão e conscientização dos agentes sociais envolvidos na totalidade da luta, informando-os sobre as diversas propostas de ações no campo, seus benefícios e malefícios, como as questões acerca da monocultura, do agronegócio, da desertificação, dos transgênicos, da necessidade da conservação das sementes, e elucidando veementemente a importância da organização social como instrumento de fortalecimento político e critico.
Todas as atividades para a materialização do projeto gerido pela ASA são desenvolvidas com a participação direta de todos os beneficiários, desde as escolhas das famílias até a execução da obra/tecnologia.
“Mobilizar, pois, é convocar vontades – escolha; é convocar sentimentos – paixão; é convocar razoes – convicção, em torno da concretização em ações do objetivo comum do P1MC.” (ASACOM, 2002, p.21)
As comunidades se envolvem nos debates e trabalhos realizados, e também nas decisões estratégicas da implementação das cisternas. Dentre as etapas, as quais se engajam a comunidade, destaca-se:
v a mobilização da comunidade e das famílias, onde são escolhidos os beneficiários;
v a capacitação das famílias escolhidas, por meio do Curso de Gerenciamento de Recursos Hídricos, onde os envolvidos aprenderão sobre as peculiaridades da região que mora e discutir as possibilidades de convivência com a seca, e em primazia, serão capacitados a manusear a água da cisterna, tanto para evitar o seu desperdício e contaminação;
v a construção, propriamente dita, das cisternas, a qual tem o envolvimento direto das famílias no processo de feitura.
v Encontros microrregionais onde os produtores rurais são informados da gerência dos recursos públicos utilizados para a implementação dos projetos (prestação de contas). E nesse encontro os participantes tem a oportunidade de trocar experiências, e se capacitar nos debates acerca dos assuntos que lhe são pertinentes e importantes, como, por exemplo, os rumos da agricultura local, estadual e regional.
A Articulação no Semi-Árido tem realizado um trabalho substancial para a permanência de camponeses e camponesas da região semi-árida, com mais dignidade e respeito à suas culturas, valorizando suas experiências, compartilhando novos conhecimentos à vida do produtor sem lhes tirar a autonomia de sua vida e produção.
Texto de Eliane Almeida, estudante do 7 º semestre de Geografia na UESB
Texto de Eliane Almeida, estudante do 7 º semestre de Geografia na UESB
Eliane, parabéns pelo texto!!
ResponderExcluirGrifei esse parágrafo do seu texto como conceito do que a ASA realiza no semiárido brasileiro.
"A Articulação no Semi-Árido tem realizado um trabalho substancial para a permanência de camponeses e camponesas da região semi-árida, com mais dignidade e respeito à suas culturas, valorizando suas experiências, compartilhando novos conhecimentos à vida do produtor sem lhes tirar a autonomia de sua vida e produção."
E mostra por que esse trabalho tem dado certo.
Nós 'Asianos e Cedasbianos' somos apaixonados pelo que fazemos, e nossa maior alegria é ver que nossa contribuição está melhorando a vida de milhares de pessoas no nosso sertão, sempre esquecido.
Todo nosso trabalho é resultado da organização da sociedade civil e a vontade de mudar a imagem de 'Seca' do nosso semiárido. Também, mostrar que é possível conviver com o semiárido.
Eduarda Tamires
Eliane,
ResponderExcluirParabéns pelo texto. Ele reflete concretamente as ações da ASA e a realidade do semiárido. Precisamos criar uma "outra mídia", um outro espaço de reflexão sobre o sertão. Não podemos deixar que a visão da oligarquia nordestina se mantenha, pois já é sabido por muitos que o problema do Nordeste não é seca e sim a Cerca.
Climério
Eliane,
ResponderExcluirGostei do seu artigo, em linguagem simples e direta, além de informar, leva o leitor a questionar e refletir sobre o que realmente é o semiarido e o que está sendo realizado nessa região, tão propagada de forma negativa e preconceituosa no Brasil e no Mundo afora.
Espero outros desse, para contribuir com a formação e espirito critico dos camponeses e camponesas que lutam por um semiarido justo e de vida plena para todos.
Obrigado,]
Jozimar
OK Jozimar, entendí o recado...rs
ResponderExcluirUm abraço.
Eliane