A cena das mulheres carregando latas d’água na cabeça é clássica. Sua estética já foi captada por muitos artistas. Caminhando esguias e retilíneas, posição forçada pelo equilíbrio da lata na cabeça, as mulheres realizam um desfile pelas estradas calcinadas do sertão. Também é o momento em que elas se encontram a sós, longe dos homens, e onde podem conversar os assuntos pessoais. O poço, a fonte, a água é o lugar do encontro do feminino, de conversas íntimas, da socialização de problemas, sonhos e desejos. No mundo inteiro, abastecer os lares com água é tarefa das mulheres de todas as idades, inclusive crianças. Há uma relação íntima entre a água e o feminino. No Semi-Árido, a relação não é diferente. Ela revela a divisão de papéis familiares e de trabalho entre os sexos.
Mas a beleza rude da cena não pode ocultar o sofrimento imposto ao corpo. Submetidas a esse serviço desde crianças, as mulheres carregarão na pele, nos músculos e nos ossos a dureza de um trabalho repe-
titivo e pesado. Com os anos, os ombros alargam, as batatas das pernas enrijecem, os problemas de coluna aparecem.
Por que um trabalho tão duro recai sobre as mulheres? Talvez porque abastecer os recipientes seja considerado uma extensão do trabalho doméstico, aquele que se faz da porta para dentro. Ao homem cabe cuidar da roça e dos animais – embora as mulheres também o façam –, ou seja, do serviço que se faz da porta para fora.
Estamos longe de superar esse problema. Quando a água está a mais de mil metros da casa, a situação é especialmente grave. Por isso, a facilitação do acesso à água mexe também com a questão de gênero,
olimpicamente distante das análises tecnocráticas.
O alívio do trabalho feminino começa a surgir com as cisternas de placas construídas no pé das casas. Quem está longe, ou raciocina a partir da água encanada, não pode compreender o peso que essa inovação retira das costas de mulheres e crianças. Para falar sobre isso, compus a música Beleza iluminada.
Mas a beleza rude da cena não pode ocultar o sofrimento imposto ao corpo. Submetidas a esse serviço desde crianças, as mulheres carregarão na pele, nos músculos e nos ossos a dureza de um trabalho repe-
titivo e pesado. Com os anos, os ombros alargam, as batatas das pernas enrijecem, os problemas de coluna aparecem.
Por que um trabalho tão duro recai sobre as mulheres? Talvez porque abastecer os recipientes seja considerado uma extensão do trabalho doméstico, aquele que se faz da porta para dentro. Ao homem cabe cuidar da roça e dos animais – embora as mulheres também o façam –, ou seja, do serviço que se faz da porta para fora.
Estamos longe de superar esse problema. Quando a água está a mais de mil metros da casa, a situação é especialmente grave. Por isso, a facilitação do acesso à água mexe também com a questão de gênero,
olimpicamente distante das análises tecnocráticas.
O alívio do trabalho feminino começa a surgir com as cisternas de placas construídas no pé das casas. Quem está longe, ou raciocina a partir da água encanada, não pode compreender o peso que essa inovação retira das costas de mulheres e crianças. Para falar sobre isso, compus a música Beleza iluminada.
Beleza Iluminada
Eu tô falando da beleza iluminada
Que no sertão nasceu com jeito de menina
De madrugada ela segue pela estrada
Caminhando com leveza feito uma bailarina
Nesse cenário que contém rara beleza
A lata d’água se equilibra na cabeça
E a menina segue esguia e retilínea
Juntando a delicadeza com a força feminina
Ai, ai, ai....
É a lata d’água naquele vai que num vai
Cai, cai, cai, cai
É o balanço da cintura que balança
Mas num cai.
E vai sonhando, apesar das incertezas,
Eu tô falando da beleza iluminada
Que no sertão nasceu com jeito de menina
De madrugada ela segue pela estrada
Caminhando com leveza feito uma bailarina
Nesse cenário que contém rara beleza
A lata d’água se equilibra na cabeça
E a menina segue esguia e retilínea
Juntando a delicadeza com a força feminina
Ai, ai, ai....
É a lata d’água naquele vai que num vai
Cai, cai, cai, cai
É o balanço da cintura que balança
Mas num cai.
E vai sonhando, apesar das incertezas,
Que o sofrimento seja coisa do passado
Que o seu corpo seja só luz e beleza
O gingo de passista e o jeito de princesa
Que o seu corpo fque leve, lindo e solto
E libertado desse peso duro e morto
A sua aura seja plena de alegria
Para o amor que, com certeza,
Ela encontrará um dia.
Que o seu corpo seja só luz e beleza
O gingo de passista e o jeito de princesa
Que o seu corpo fque leve, lindo e solto
E libertado desse peso duro e morto
A sua aura seja plena de alegria
Para o amor que, com certeza,
Ela encontrará um dia.
Texto e Música de Roberto Malvezzi. Disponível em :Portal.mda.
Esse texto retrata claramente a realidade das mulheres do semi-árido,que não medem distância para abastecer seus lares,seja com uma lata d’água na cabeça, ou no lombo de um animal, elas não deixam faltar água nos recipientes, porém essa realidade esta mudadando graças a cisterna de consumo humano, que ja beneficiaram muitas famílias, e precisa chegar a todas as casas do semi-árido.
ResponderExcluirParabéns Eduarda pela escolha do texto foi excelente.
O debate sobre gênero é de grande importância para supermos essa violência implícita que a mulher sofre no seu dia-dia. A lata d`água na cabeça precisa virar coisa do passado. O texto e música de Gogó faz uma bela justiça as mulheres do nosso SEMIÁRIDO.
ResponderExcluirClimério