Esse é o solo do semiárido! Muito produtivo. Foto arquivo do CEDASB |
Na realidade, nem o semiárido é inviável nem seu povo é incapaz. O que ocorre é que durante muito tempo e, em muitos casos, ainda nos dias de hoje, as únicas políticas oficiais destinadas à região foram aquelas denominadas de “combate à seca”.
São políticas que estavam e estão voltadas para grandes obras, normalmente destinados a assistir aos mais ricos e que vinham unidas a processos assistencialistas, voltados para os mais pobres, como doações, esmolas, distribuição de víveres, carros-pipa e processos semelhantes. Estas políticas nunca tiveram e não têm interesse de resolver as questões e
os problemas. As ações de combate à seca sempre aparecem como “atos de bondade”, mas propositalmente são criadas e mantidas para garantir que o semiárido e seu povo permaneçam sem vez e sem voz, dependentes.
Como se sabe, essas políticas, normalmente são ligadas ao voto e mantêm no poder as mesmas pessoas e grupos oligárquicos, através da compra de votos.
Assim, através de doações e políticas assistencialistas não voltadas para resolver os problemas do povo do semiarido, sempre foi mantida e favorecida a concentração da terra nos latifúndios, nos grandes projetos do agronegócio, nas grandes fazendas de gado. Enquanto isso, “muitos agricultores e agricultoras ainda trabalham em terras alheias ou em minifúndios superexplorados, fragilizando sua própria segurança alimentar” (ASA, Ceará, 2006).
De igual modo, durante muitos anos foram construídos muitos poços e açudes no semiárido, mas em terras dos ricos e dos fazendeiros. Por isso, em cada seca ocorrida, os ricos permaneciam mais ricos, possuidores e concentradores de mais água em suas terras - com mais terra e com mais poder. E os mais pobres, ou migravam ou ficavam mais
miseráveis. Há ainda outras ações que intensificam os problemas do semiarido. É a educação que é dada nas escolas, aos filhos e filhas dos agricultores. Quase sempre é uma educação descontextualizada, que coloca na cabeça das crianças a mentalidade de que na roça, na área rural e no semiárido não há possibilidade de vida. Pelo que se estuda, debate, lê e se faz em muitas escolas, conclui-se que quem quer viver bem e dignamente não deveria seguir a trilha e a história dos próprios pais e antepassados, mas sim, migrar do semiárido.
Permanecer no semiárido não seria uma ação inteligente, pois ali não há possibilidade de vida digna (BAPTISTA, 2005; MOURA, 2003; RESAB, 2006).
Toda essa problemática é perpassada, de modo cruel, por uma marginalização das mulheres e, por conseguinte, pela ausência de um debate de gênero.
(...)
DO: REDESAN
Texto de:
Naidison de Quintella Baptista: Mestre em Teologia, com graduação em Filosofia, Teologia e Educação. Secretário Executivo do Movimento de Organização Comunitária (MOC), membro da Coordenação da ASA Bahia e da Coordenação Nacional da ASA.Presidente do CONSEA-Bahia e membro do CONSEA-Nacional
Carlos Humberto Campos: Graduado em Sociologia, membro da Equipe Técnica da Cáritas Brasileira – Regional do Piauí e membro da Coordenação Nacional da ASA.
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