terça-feira, 30 de outubro de 2012
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Vazamento de urânio em pó preocupa trabalhadores de mina
- CELSO CALHEIROS
- Direto de Recife
Uma falha em uma operação na mina de urânio das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Caetité, a 445 km de salvador (BA), derramou urânio em pó que estava sendo embalado em um tambor. O acidente ocorreu às 9h de quinta-feira e foi comunicado ao escritório local da Comissão de Energia Nuclear (CNEM), de acordo com a INB. Os trabalhadores temem contaminação e o clima próximo do setor é de preocupação.
De acordo com a INB, o episódio é classificado como um incidente em área de embalagem do concentrado de urânio. "A área que é preparada para conter, recuperar o material, limpar e impedir que haja qualquer vazamento para outras áreas da unidade ou para o meio ambiente", explica a nota oficial. "O projeto da instalação prevê este tipo de atividade e, para isso todos equipamentos e pessoal são imediatamente acionados para resolver a questão", continua o comunidado.
A INB também garante que todos os procedimentos foram executados. "O concentrado foi recuperado e a área completamente limpa, até que não houvesse nenhum traço desse material no local".
Versões diferentes
O sindicato estima em 400 kg de urânio em pó, também conhecido como yellow cake. O volume é a quantidade de um tambor cheio. Já a INB informou que 100 kg de urânio em pó foram derramados, todo o material foi recuperado e a área ficou limpa, sem traço de material. "A área é preparada para limpar e impedir que haja qualquer vazamento para outras áreas da unidade ou para o meio ambiente", informou a empresa.
O dirigente sindical que fez a denúncia também afirmou que o clima entre os trabalhadores é de medo, pelas consequências que o contato com o pó podem gerar na saúde deles. O sindicalista pediu para não ter o nome divulgado, por temer repreensões como transferência de turno ou em local isolado de seus colegas.
A mina em Caetité é a única mina de urânio em atividade no Brasil. Sua produção é beneficiada nas próprias instalações e se obtém o yellow cake, que é enviado para a França, para ser favorecido. Depois do processo, ele retorna ao Brasil e é servido como combustível das usinas nucleares em Angra dos Reis.
O clima de desconfiança entre parte da população, dos movimentos civis organizados, como a Comissão Pastoral da Terra e sindicato de trabalhadores é antigo. O Greenpeace já denunciou, em 2008, que poços de água estavam contaminados. A CNEM, na época, disse que a radioatividade era natural, uma vez que o urânio estava na terra.
Em 2011, cerca de duas mil pessoas foram às ruas para impedir que caminhões com contêineres entrassem na mina - temiam pela recepção de lixo radioativo. De acordo com o Ministério do Trabalho, o setor chegou a ser interditado. "As instalações são inadequadas, com comunicação com o ambiente externo", disse a auditora Fernanda Giannasi.
*Portal Terra
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Alimentar o mundo sem pesticidas é possível, afirma cineasta francesa
Por Anthony Lucas (AFP),
PARIS — Alimentar o planeta Terra sem pesticidas é possível, afirma a jornalista francesa Marie-Monique Robin, que após revelar em um filme o envolvimento do exército francês na Operação Condor e denunciar a multinacional Monsanto, defende em seu novo trabalho a agroecologia.
Com o documentário "Les Moissons du futur" ("As colheitas do futuro"), Morin encerra a trilogia sobre a contaminação alimentar que começou em 2008 com "O mundo segundo Monsanto", sobre a gigante agroquímica americana Monsanto, e "Nosso veneno cotidiano" (2010).
"Após estes filmes, participei de dezenas de conferências nas quais me perguntavam: 'mas é possível alimentar o mundo sem pesticidas?'", conta Robin, autora de vários filmes sobre os direitos humanos na América Latina, entre eles "Esquadrões da morte, a escola francesa" (2003), no qual revelou um acordo de cooperação militar secreto entre Paris e Buenos Aires.
Em seu novo documentário, Robin explica que para tentar responder à pergunta sobre se pode resolver a crise alimentar global mediante a agroecologia, percorreu o planeta, do Japão ao México, passando por Quênia e Estados Unidos, reunindo-se com camponeses, agricultores, agrônomos e especialistas.
Seu veredicto é taxativo: não apenas é possível produzir alimentos em quantidade suficiente para que o mundo não passe fome, e também sem prejudicar o planeta, mas "se agora não se pode alimentar o mundo, a culpa é dos pesticidas...", assegura Morin.
Diferentemente de seus dois filmes precedentes, "As colheitas do futuro" não é tanto uma investigação, mas uma reunião de testemunhos que foram recolhidos em uma versão filmada, que será lançada em DVD em meados de outubro, e um livro publicado pela editora La Découverte.
O trabalho de Morin também é a ilustração das conclusões de um relatório publicado em março de 2011 por Olivier De Schutter, relator especial das Nações Unidas pelo direito à alimentação.
Neste relatório, o especialista afirma que a agroecologia, método baseado na renovação dos solos eliminando os fertilizantes químicos, pode permitir melhoras nos rendimentos nas regiões mais pobres, além de estar melhor adaptado às mudanças climáticas.
A alternativa aos pesticidas é a agroecologia
"Os projetos agroecológicos demonstraram um aumento médio dos rendimentos de 80% em 57 países em desenvolvimento, com um aumento médio de 116% para todos os projetos africanos", afirmava seu autor.
Marie-Monique Robin partiu para entrevistar agricultores e camponeses ecológicos do mundo inteiro, para examinar se a agricultura ecológica baseada em um manejo adequado do solo, um uso eficiente da água, a diversidade vegetal, é o caminho para sair da crise global e conseguir alimentar o planeta Terra.
Ela se interessou, por exemplo, pelo método agroflorestal, que consiste em plantar em meio aos cultivos árvores capazes de captar a água mais profundamente no solo, manter a qualidade do solo e lutar contra a erosão.
"Os estudos demonstram que os sistemas agrícolas mais produtivos são os que apresentam uma densidade importante de árvores", comprovou a jornalista, que ressalta que o modelo agroindustrial não conseguiu alimentar o planeta.
Para apoiar sua tese de que a alternativa aos pesticidas é a agroecologia, Morin reuniu em seu filme dezenas de exemplos de como camponeses do mundo substituíram os inseticidas com técnicas aparentemente simples, que matam as ervas e os insetos daninhos sem prejudicar o solo nem provocar doenças.
(*) Matéria reproduzida a Agence France Press (AFP). Veja o documentário em francês aqui.
(*) Reproduzido do site da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
“A solução para a agricultura é a via agroecológica” sentencia Marc Dufumier.
Com o tema ‘Agricultura na
América Latina’, o engenheiro agrônomo Marc Dufumier esteve em Vitória da
Conquista nesta terça (02), para ministrar uma palestra na Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). “Iniciei as pesquisas sobre a agricultura
praticada na América Latina a partir da minha curiosidade a respeito de algumas
práticas dos agricultores daqui, especialmente o porquê de se buscar tanto o
aumento das áreas de plantio. Na França sempre se buscou aproveitar as terras
que estavam disponíveis”, disse o francês, explicando o motivo pelo qual passou
a pesquisar a agricultura praticada nos países latino-americanos.
O agrônomo, que também é
pesquisador e diretor da unidade de pesquisa “Agricultura Comparada e
Desenvolvimento Agrícola” do Instituto Agro-Paris-Tech, esteve na presença de
estudantes de agronomia, professores e profissionais do ramo, em atividade
realizada no auditório do CAP.
O palestrante, especialista em
políticas e programas para o desenvolvimento sustentável da agricultura nos
países em desenvolvimento, fez uma breve contextualização histórica das
práticas agrícolas latino-americanas ao longo do tempo e depois discorreu sobre
o que chamou de “erros do passado”: as monoculturas, as criações extensivas de
gado e a busca constante por maiores extensões de terra para plantar através do
desmatamento das vegetações nativas.
De uma forma didática, Dufumier
enumerou as consequências deste modelo de agricultura, criticando a busca de
economias de escala sem considerar os custos ambientais, a utilização exagerada
de pesticidas e adubos químicos que causam a contaminação das águas, do ar, dos
solos e dos alimentos. “Descobrimos hoje, que um grande número de pesticidas
causa danos à saúde, ocasionando doenças como câncer, doenças degenerativas
como Alzheimer e problemas de fertilidade, então um dia é preciso pagar por isso”,
diz, enfatizando as consequências de longo prazo da ingestão de alimentos
contaminados por agrotóxicos no organismo.
A especialização exagerada, com a
simplificação e fragilização dos ecossistemas, ganhou destaque como um fator
crítico para a prática agrícola, pois acarreta a perda de biodiversidade e
desequilíbrios ecológicos, citando os exemplos das ervas daninhas resistentes
aos herbicidas e as espécies invasoras, efeitos colaterais clássicos das
monoculturas.
Além das consequências negativas
para a natureza e a saúde pública, o pesquisador francês considerou ainda os prejuízos
sociais do agronegócio, que afastam o agricultor e a agricultora familiar do
campo, devido à impossibilidade destes terem acesso a condições satisfatórias
para produzir, o que acarreta a insegurança alimentar de toda uma parcela da
população. Para ele, é preciso oferecer mecanismos, por meio de políticas
públicas, que possibilitem aos pequenos agricultores acesso a melhores
condições para exercer a atividade agrícola.
A via do futuro: a agroecologia
Monsieur Dufumier apontou a agroecologia como o caminho mais viável
para o futuro da agricultura em todo o mundo. Segundo ele, somente com o
trabalho do agricultor em harmonia com o ecossistema, privilegiando o consórcio
de culturas e a cobertura permanente dos solos pode-se garantir a
sustentabilidade da prática agrícola. A gestão das águas entre os solos e os
subsolos e a associação da agricultura com a criação de animais também foram
pontos chave equacionados em sua explanação.
Finalizando, Marc Dufumier resume
a convicção do seu trabalho. “Eu gostaria de dizer a vocês tecnicamente: eu sou
muito otimista que seja possível alimentar todo mundo com uma agricultura
sustentável, que faça uso intensivo da energia do ar, do sol, dos elementos do solo,
respeitando o equilíbrio ambiental e que essa agricultura deve ser acessível
aos mais pobres, promovendo o acesso aos meios para que eles possam produzir e
comercializar sua produção, mas isso é impossível se não houver reforma
agrária”.
De Vitória da Conquista, Marc
Dufumier segue para Ilhéus para compor a mesa do Congresso VII SOBER Nordeste:
Políticas públicas, agricultura e meio ambiente, que será realizado de 03 a 05
de Outubro na Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus-BA.
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