terça-feira, 23 de outubro de 2012

Vazamento de urânio em pó preocupa trabalhadores de mina


CELSO CALHEIROS
Direto de Recife
Uma falha em uma operação na mina de urânio das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Caetité, a 445 km de salvador (BA), derramou urânio em pó que estava sendo embalado em um tambor. O acidente ocorreu às 9h de quinta-feira e foi comunicado ao escritório local da Comissão de Energia Nuclear (CNEM), de acordo com a INB. Os trabalhadores temem contaminação e o clima próximo do setor é de preocupação.
De acordo com a INB, o episódio é classificado como um incidente em área de embalagem do concentrado de urânio. "A área que é preparada para conter, recuperar o material, limpar e impedir que haja qualquer vazamento para outras áreas da unidade ou para o meio ambiente", explica a nota oficial. "O projeto da instalação prevê este tipo de atividade e, para isso todos equipamentos e pessoal são imediatamente acionados para resolver a questão", continua o comunidado.
A INB também garante que todos os procedimentos foram executados. "O concentrado foi recuperado e a área completamente limpa, até que não houvesse nenhum traço desse material no local".
Versões diferentes
O sindicato estima em 400 kg de urânio em pó, também conhecido como yellow cake. O volume é a quantidade de um tambor cheio. Já a INB informou que 100 kg de urânio em pó foram derramados, todo o material foi recuperado e a área ficou limpa, sem traço de material. "A área é preparada para limpar e impedir que haja qualquer vazamento para outras áreas da unidade ou para o meio ambiente", informou a empresa.

O dirigente sindical que fez a denúncia também afirmou que o clima entre os trabalhadores é de medo, pelas consequências que o contato com o pó podem gerar na saúde deles. O sindicalista pediu para não ter o nome divulgado, por temer repreensões como transferência de turno ou em local isolado de seus colegas.
A mina em Caetité é a única mina de urânio em atividade no Brasil. Sua produção é beneficiada nas próprias instalações e se obtém o yellow cake, que é enviado para a França, para ser favorecido. Depois do processo, ele retorna ao Brasil e é servido como combustível das usinas nucleares em Angra dos Reis.
O clima de desconfiança entre parte da população, dos movimentos civis organizados, como a Comissão Pastoral da Terra e sindicato de trabalhadores é antigo. O Greenpeace já denunciou, em 2008, que poços de água estavam contaminados. A CNEM, na época, disse que a radioatividade era natural, uma vez que o urânio estava na terra.
Em 2011, cerca de duas mil pessoas foram às ruas para impedir que caminhões com contêineres entrassem na mina - temiam pela recepção de lixo radioativo. De acordo com o Ministério do Trabalho, o setor chegou a ser interditado. "As instalações são inadequadas, com comunicação com o ambiente externo", disse a auditora Fernanda Giannasi.
*Portal Terra

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Alimentar o mundo sem pesticidas é possível, afirma cineasta francesa


Por Anthony Lucas (AFP),
PARIS — Alimentar o planeta Terra sem pesticidas é possível, afirma a jornalista francesa Marie-Monique Robin, que após revelar em um filme o envolvimento do exército francês na Operação Condor e denunciar a multinacional Monsanto, defende em seu novo trabalho a agroecologia.
Com o documentário "Les Moissons du futur" ("As colheitas do futuro"), Morin encerra a trilogia sobre a contaminação alimentar que começou em 2008 com "O mundo segundo Monsanto", sobre a gigante agroquímica americana Monsanto, e "Nosso veneno cotidiano" (2010).
"Após estes filmes, participei de dezenas de conferências nas quais me perguntavam: 'mas é possível alimentar o mundo sem pesticidas?'", conta Robin, autora de vários filmes sobre os direitos humanos na América Latina, entre eles "Esquadrões da morte, a escola francesa" (2003), no qual revelou um acordo de cooperação militar secreto entre Paris e Buenos Aires.
Em seu novo documentário, Robin explica que para tentar responder à pergunta sobre se pode resolver a crise alimentar global mediante a agroecologia, percorreu o planeta, do Japão ao México, passando por Quênia e Estados Unidos, reunindo-se com camponeses, agricultores, agrônomos e especialistas.
Seu veredicto é taxativo: não apenas é possível produzir alimentos em quantidade suficiente para que o mundo não passe fome, e também sem prejudicar o planeta, mas "se agora não se pode alimentar o mundo, a culpa é dos pesticidas...", assegura Morin.
Diferentemente de seus dois filmes precedentes, "As colheitas do futuro" não é tanto uma investigação, mas uma reunião de testemunhos que foram recolhidos em uma versão filmada, que será lançada em DVD em meados de outubro, e um livro publicado pela editora La Découverte.
O trabalho de Morin também é a ilustração das conclusões de um relatório publicado em março de 2011 por Olivier De Schutter, relator especial das Nações Unidas pelo direito à alimentação.
Neste relatório, o especialista afirma que a agroecologia, método baseado na renovação dos solos eliminando os fertilizantes químicos, pode permitir melhoras nos rendimentos nas regiões mais pobres, além de estar melhor adaptado às mudanças climáticas.
A alternativa aos pesticidas é a agroecologia
"Os projetos agroecológicos demonstraram um aumento médio dos rendimentos de 80% em 57 países em desenvolvimento, com um aumento médio de 116% para todos os projetos africanos", afirmava seu autor.
Marie-Monique Robin partiu para entrevistar agricultores e camponeses ecológicos do mundo inteiro, para examinar se a agricultura ecológica baseada em um manejo adequado do solo, um uso eficiente da água, a diversidade vegetal, é o caminho para sair da crise global e conseguir alimentar o planeta Terra.
Ela se interessou, por exemplo, pelo método agroflorestal, que consiste em plantar em meio aos cultivos árvores capazes de captar a água mais profundamente no solo, manter a qualidade do solo e lutar contra a erosão.
"Os estudos demonstram que os sistemas agrícolas mais produtivos são os que apresentam uma densidade importante de árvores", comprovou a jornalista, que ressalta que o modelo agroindustrial não conseguiu alimentar o planeta.
Para apoiar sua tese de que a alternativa aos pesticidas é a agroecologia, Morin reuniu em seu filme dezenas de exemplos de como camponeses do mundo substituíram os inseticidas com técnicas aparentemente simples, que matam as ervas e os insetos daninhos sem prejudicar o solo nem provocar doenças.
(*) Matéria reproduzida a Agence France Press (AFP). Veja o documentário em francês aqui.
(*) Reproduzido do site da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

“A solução para a agricultura é a via agroecológica” sentencia Marc Dufumier.



Com o tema ‘Agricultura na América Latina’, o engenheiro agrônomo Marc Dufumier esteve em Vitória da Conquista nesta terça (02), para ministrar uma palestra na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). “Iniciei as pesquisas sobre a agricultura praticada na América Latina a partir da minha curiosidade a respeito de algumas práticas dos agricultores daqui, especialmente o porquê de se buscar tanto o aumento das áreas de plantio. Na França sempre se buscou aproveitar as terras que estavam disponíveis”, disse o francês, explicando o motivo pelo qual passou a pesquisar a agricultura praticada nos países latino-americanos.

O agrônomo, que também é pesquisador e diretor da unidade de pesquisa “Agricultura Comparada e Desenvolvimento Agrícola” do Instituto Agro-Paris-Tech, esteve na presença de estudantes de agronomia, professores e profissionais do ramo, em atividade realizada no auditório do CAP.

O palestrante, especialista em políticas e programas para o desenvolvimento sustentável da agricultura nos países em desenvolvimento, fez uma breve contextualização histórica das práticas agrícolas latino-americanas ao longo do tempo e depois discorreu sobre o que chamou de “erros do passado”: as monoculturas, as criações extensivas de gado e a busca constante por maiores extensões de terra para plantar através do desmatamento das vegetações nativas.

De uma forma didática, Dufumier enumerou as consequências deste modelo de agricultura, criticando a busca de economias de escala sem considerar os custos ambientais, a utilização exagerada de pesticidas e adubos químicos que causam a contaminação das águas, do ar, dos solos e dos alimentos. “Descobrimos hoje, que um grande número de pesticidas causa danos à saúde, ocasionando doenças como câncer, doenças degenerativas como Alzheimer e problemas de fertilidade, então um dia é preciso pagar por isso”, diz, enfatizando as consequências de longo prazo da ingestão de alimentos contaminados por agrotóxicos no organismo.

A especialização exagerada, com a simplificação e fragilização dos ecossistemas, ganhou destaque como um fator crítico para a prática agrícola, pois acarreta a perda de biodiversidade e desequilíbrios ecológicos, citando os exemplos das ervas daninhas resistentes aos herbicidas e as espécies invasoras, efeitos colaterais clássicos das monoculturas.

Além das consequências negativas para a natureza e a saúde pública, o pesquisador francês considerou ainda os prejuízos sociais do agronegócio, que afastam o agricultor e a agricultora familiar do campo, devido à impossibilidade destes terem acesso a condições satisfatórias para produzir, o que acarreta a insegurança alimentar de toda uma parcela da população. Para ele, é preciso oferecer mecanismos, por meio de políticas públicas, que possibilitem aos pequenos agricultores acesso a melhores condições para exercer a atividade agrícola.  

A via do futuro: a agroecologia

Monsieur Dufumier apontou a agroecologia como o caminho mais viável para o futuro da agricultura em todo o mundo. Segundo ele, somente com o trabalho do agricultor em harmonia com o ecossistema, privilegiando o consórcio de culturas e a cobertura permanente dos solos pode-se garantir a sustentabilidade da prática agrícola. A gestão das águas entre os solos e os subsolos e a associação da agricultura com a criação de animais também foram pontos chave equacionados em sua explanação.

Finalizando, Marc Dufumier resume a convicção do seu trabalho. “Eu gostaria de dizer a vocês tecnicamente: eu sou muito otimista que seja possível alimentar todo mundo com uma agricultura sustentável, que faça uso intensivo da energia do ar, do sol, dos elementos do solo, respeitando o equilíbrio ambiental e que essa agricultura deve ser acessível aos mais pobres, promovendo o acesso aos meios para que eles possam produzir e comercializar sua produção, mas isso é impossível se não houver reforma agrária”.

De Vitória da Conquista, Marc Dufumier segue para Ilhéus para compor a mesa do Congresso VII SOBER Nordeste: Políticas públicas, agricultura e meio ambiente, que será realizado de 03 a 05 de Outubro na Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus-BA.